Teorias do Desenvolvimento e Aprendizagem

 Material de Pós Gradução em Psicologia da Aprendizagem





Bee (1995, p. 463) apresenta um quadro das várias etapas da adolescência,

relacionando-as com a faixa etária e as características físicas, cognitivas, sociais, o

desenvolvimento da personalidade e dos relacionamentos.


Faixa etária 12-14 anos


Desenvolvimento físico: início de importantes mudanças puberais para os

meninos. Pulo de crescimento nas meninas. Idade média da menarca.


Desenvolvimento cognitivo: início das operações formais básicas, análise

sistemática, emprego de lógica dedutiva.


Desenvolvimento de personalidade: incidência de depressão aumenta. A

autoestima declina brevemente.


Desenvolvimento de relações sociais: formação de “panelinhas”. Capacidade

de ter empatia. Conflitos com os pais atingem o grau máximo.



Faixa etária 15-17 anos


Desenvolvimento físico: pulo máximo de crescimento nos meninos.


Desenvolvimento cognitivo: aprofundamento da capacidade de realizar

operações formais e lógicas.


Desenvolvimento de personalidade: autoestima começa a aumentar.


Desenvolvimento de relações sociais: capacidade de desempenhar diferentes

papéis sociais. Formação de turmas.



Faixa etária 18-20 anos


Desenvolvimento físico: atinge a formação corporal da fase adulta.


Desenvolvimento cognitivo: consolidação da capacidade de realizar

operações formais e lógicas.


Desenvolvimento de personalidade: consolidação da própria identidade.


Desenvolvimento de relações sociais: capacidade de desempenhar diferentes

papéis sociais. Formação de pares.



O objetivo dos pais e educadores de adolescentes é equilibrar limites necessários,

para que o jovem sinta-se seguro e protegido, e liberdade, para que ele torne-se um

adulto que não precise ser tutoreado, assumindo suas responsabilidades e escolhas. 







Adolescência: O Processo de Busca e Separação

A adolescência é a fase de "luta" pela identidade e independência. É o momento em que o indivíduo passa das operações concretas para as operações formais (pensamento abstrato e lógico), o que impulsiona a capacidade de reflexão sobre si e o mundo.

1. Formação da Identidade e Autoestima

  • Busca pela Identidade: O adolescente questiona "Quem sou eu?" e "Qual é o meu lugar no mundo?". Essa busca é intensa e, em muitos casos, pode gerar sentimentos de confusão e angústia.

  • Autoestima: As transformações físicas e as pressões sociais (para se adequar a padrões de beleza ou expectativas) podem levar à insegurança e à baixa autoestima.

2. Relações Sociais e Autonomia

  • Grupos de Pares (Panelinhas/Turmas): O grupo de amigos se torna o principal veículo para a transição para a vida adulta. A panelinha ou turma oferece segurança, aceitação e um espaço para compartilhar ideias, costumes e modos de agir, servindo como uma base de comparação e confidência mais relevante que os pais.

  • Conflito e Autonomia: O desejo por autonomia leva a conflitos com pais e figuras de autoridade, um processo essencial para o desenvolvimento de um senso de self único e independente.

3. Emocionalidade e Vulnerabilidade

  • É uma fase de grande emocionalidade, que envolve a necessidade de amar, ser aceito e valorizado.

  • A pressão social e escolar, somada às mudanças internas, pode tornar a fase vulnerável à saúde mental, com maior incidência de ansiedade e depressão.


Transição para a Vida Adulta: A Adultez Emergente

A passagem da adolescência para a vida adulta não é imediata, mas sim um processo gradual que, na contemporaneidade, é muitas vezes estendido, configurando a fase da Adultez Emergente (aproximadamente dos 18 aos 29 anos).

1. Desafios Centrais

  • Ajuste de Expectativas: O adulto emergente começa a perceber que as idealizações da adolescência sobre a liberdade adulta não correspondem à realidade. A liberdade vem acompanhada de pesadas responsabilidades.

  • Medo de Crescer: A insegurança e o receio de assumir as responsabilidades da vida adulta podem levar à estagnação (o que em alguns casos é chamado de "adolescência tardia"), impedindo o jovem de perseguir seus projetos de vida.

2. Conquistas Psicológicas

  • Consolidação da Identidade: A fase final da adolescência e o início da vida adulta são marcados pela consolidação da própria identidade e do senso de competência (capacidade de "produzir e construir").

  • Experiência e Responsabilidade: A grande vantagem da vida adulta é a junção da experiência (aprendida na vivência) com a possibilidade de produzir e construir, assumindo de fato a responsabilidade pelas escolhas e pelo futuro.

  • Relações de Pares: O foco social muda da turma ou grupo maior para a formação de pares (relacionamentos românticos mais profundos e parcerias adultas).



Em essência, a jornada psicológica é uma lenta transição de uma vida familiar protegida para uma vida independente, onde o jovem deve transformar a identidade que construiu na adolescência em um adulto funcional e autônomo.


Os estudos científicos atuais reconhecem a multiplicidade de experiências adolescentes, que variam muito em função de fatores sociais, econômicos e culturais, e buscam intervir precocemente para promover um desenvolvimento positivo.



1. Principais Teorias do Desenvolvimento na Adolescência

Diversas correntes teóricas se debruçaram sobre a adolescência, oferecendo diferentes focos para a compreensão dessa fase:

A. Perspectiva Psicossocial (Erik Erikson)

  • Foco Principal: A crise da Identidade versus Confusão de Papéis.

  • Conceito Central: Erikson define a adolescência como o momento em que o jovem deve estabelecer sua identidade social e ocupacional básica. O adolescente não é mais uma criança dependente, mas ainda não é um adulto independente, o que gera uma "crise de identidade" e a necessidade de uma moratória psicossocial (um tempo para experimentar papéis e valores antes de se comprometer com a identidade adulta).

B. Perspectiva Cognitiva (Jean Piaget)

  • Foco Principal: Desenvolvimento do pensamento.

  • Conceito Central: A adolescência marca a passagem para o Período Operatório Formal (início por volta dos 12 anos). Nesta fase, o indivíduo adquire a capacidade de:

    • Pensamento Abstrato: Refletir sobre o que é possível, e não apenas sobre o que é real.

    • Lógica Dedutiva/Hipotética: Criar e testar hipóteses, resolver equações com múltiplas variáveis e usar o raciocínio sistemático, como você mencionou no quadro de Bee (1995).

C. Perspectiva Sócio-Histórica e Cultural (Lev Vygotsky)

  • Foco Principal: O papel do meio social e cultural no desenvolvimento.

  • Conceito Central: Vygotsky e seus seguidores defendem que a adolescência não é apenas um fenômeno biológico, mas tem sua origem na história das transformações sociais. O desenvolvimento psicológico (como o pensamento conceitual e a linguagem mais complexa) ocorre através da interação com o meio e o contexto histórico. A adolescência é vista como uma nova situação social de desenvolvimento, que molda a formação da personalidade do jovem.

D. Perspectivas Contemporâneas (Jeffrey Arnett e Abordagem Bioecológica)

  • Foco Principal: O alongamento do desenvolvimento na sociedade moderna.

  • Conceito Central: O modelo mais atual frequentemente incorpora o conceito de Adultez Emergente (Jeffrey Arnett), que descreve o período dos 18 aos 29 anos, caracterizado pela intensa exploração da identidade (em áreas como amor, trabalho e visões de mundo) antes de se assumir os papéis adultos tradicionais. A Abordagem Bioecológica (Urie Bronfenbrenner) também é crucial, pois estuda o adolescente em seus diversos contextos (família, escola, comunidade), reconhecendo que a cultura e o ambiente social são fatores determinantes.


2. Temas Atuais de Pesquisa na Psicologia da Adolescência

Os estudos mais recentes se concentram em temas que refletem os desafios e o contexto da sociedade contemporânea:

  1. Saúde Mental e Pressões Sociais:

    • Pesquisas sobre o aumento de sintomas de ansiedade e depressão na adolescência.

    • O impacto dos padrões de beleza e das mídias sociais na imagem corporal e na autoestima dos jovens.

  2. Comportamentos de Risco:

    • Investigações sobre uso de substâncias (álcool, drogas), comportamento sexual de risco e comportamento antissocial ou suicida. Muitos estudos buscam compreender as representações sociais que os adolescentes têm desses comportamentos (por exemplo, uso de álcool relacionado ao lazer e socialização).

  3. Desenvolvimento Moral e Autonomia:

    • A busca por autonomia e o distanciamento gradual dos pais, equilibrando a necessidade de independência com o suporte familiar.

    • Estudos sobre o desenvolvimento moral e a construção do comprometimento moral como propósito de vida.








Organizações e Instituições Brasileiras de Pesquisa

Essas organizações combinam pesquisa, atendimento e apoio à elaboração de políticas públicas, com foco no contexto brasileiro:

1. Institutos de Pesquisa e Atendimento

  • INPD (Psiquiatria do Desenvolvimento para Crianças e Adolescentes): Uma excelente fonte para estudos focados na psiquiatria e no neurodesenvolvimento. Trabalham com intervenções precoces, saúde mental e soluções digitais, muitas vezes em parceria com grandes universidades como a USP e a Unifesp.

  • CEAPIA (Centro de Estudos, Atendimento e Pesquisa da Infância e da Adolescência): Instituição sem fins lucrativos dedicada ao atendimento clínico, ensino e pesquisa da infância e adolescência. Oferece cursos de formação para profissionais e foca em diferentes modalidades de terapia e apoio parental.

  • Rede de Estudos sobre Desenvolvimento na Infância, Adolescência e Juventude (REDIJUV/UFSM): Ligada a universidades, esta rede é um bom ponto de partida para encontrar artigos científicos e trabalhos de conclusão de eventos (como congressos de Psicologia do Desenvolvimento) sobre o tema no Brasil.

2. Setor Público e Terceiro Setor

  • Ministério da Saúde - Saúde do Adolescente e Jovens: O portal oficial do Governo Federal, que disponibiliza publicações, cartilhas, estudos e notas técnicas sobre a saúde integral (incluindo a saúde mental) de adolescentes no Brasil. É crucial para entender as diretrizes de políticas públicas.

  • Conselho Federal de Psicologia (CFP): O CFP produz documentos e relatórios com reflexões críticas sobre concepções, práticas e teorias na Psicologia da Adolescência, sendo uma fonte importante para a perspectiva profissional da área.

  • Fundação Abrinq: Focada na defesa dos direitos de crianças e adolescentes. Em seu site, é possível encontrar materiais e e-books sobre saúde mental e o trabalho de organizações que promovem o desenvolvimento cognitivo e emocional.


Organizações Internacionais (com atuação no Brasil)

Essas organizações globais produzem relatórios e estudos de grande escala com uma perspectiva de direitos humanos e desenvolvimento psicossocial:

  • UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância): O UNICEF atua globalmente e no Brasil, realizando pesquisas sobre o bem-estar e saúde mental de adolescentes e jovens. O trabalho deles é frequentemente focado em desigualdades, participação juvenil e canais de ajuda, como o "Pode Falar" (um canal de ajuda em saúde mental).

  • OPAS/OMS (Organização Pan-Americana da Saúde / Organização Mundial da Saúde): Oferecem diretrizes e relatórios focados na saúde mental de adolescentes, com ênfase em intervenções escolares, familiares e comunitárias. São uma fonte excelente para dados estatísticos e tendências globais sobre transtornos emocionais e prevenção de riscos.

  • CIESPI (Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância): Foca no desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre políticas e práticas sociais para crianças e adolescentes. Trabalha em âmbito nacional e internacional, promovendo a defesa dos direitos.









A adolescência é uma fase de mudanças e transformações. Com o início da puberdade, tais mudanças são visivelmente percebidas no corpo dos adolescentes.


O gênero, o papel sexual e a sexualidade são questões muito importantes no desenvolvimento psicológico do ser humano. É importante deixar claro que, neste material, sexualidade é entendida como algo mais amplo do que apenas o ato sexual. A descoberta da sexualidade abrange o fato de se conhecer – seu corpo, seus desejos e suas escolhas – e o momento de ter novas experiências com outra pessoa que atraia o adolescente.



As mudanças físicas afetam de modo significativo o adolescente. Por isso, este se encontra num processo em que necessitará elaborar o luto do corpo infantil, o papel e a identidade infantis e o luto pelos pais da infância.



Adolescentes e crianças de dois anos são conhecidos por seu negativismo. São egocêntricos, buscam maior independência e mostram-se ávidos por aprender novas habilidades.




É correto afirmar que a autoestima se dá, também, pelo olhar que os outros lançam sobre o adolescente. Ele se reconhece a partir do que o outro acha e observa nele.



além dos aspectos sociais, as interações que são possibilitadas contribuem para a construção de bases sólidas para este desenvolvimento e, por isso, devem ser consideradas em todo o processo.



A autoestima modifica-se no decorrer da vida: uma adolescente que se acha feia, esquisita e sem jeito pode vir a se tornar um adulto que se valoriza naquilo que sabe, que já encontrou sua beleza física, a qual não faz parte do padrão, e que aprendeu coisas novas, tendo posturas assertivas e verdadeiras diante da vida.



Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a faixa etária em que ocorre a adolescência é de dez a 19 anos. Porém, este é apenas um indicador: há crianças que encurtam sua infância, bem como adolescentes que demoram a entrar na vida adulta.








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