LINGUAGEM - COMPORTAMENTO E APRENDIZAGEM

Olá, sejam bem vindos e bem vindas


As Quatro Pilares da Linguagem: Um Diálogo entre Teorias Clássicas da Aquisição



A capacidade de falar, ler e escrever é a característica humana mais fascinante, sendo a fundação de toda a nossa cognição e cultura. Mas, afinal, como adquirimos a linguagem? A resposta para essa pergunta complexa reside em grandes debates teóricos.

Para entender a gênese de nossa comunicação, vamos mergulhar nas três principais correntes que tentaram desvendar o mistério da aquisição da linguagem, focando nos pressupostos de B. F. Skinner, Noam Chomsky e Jean Piaget.


1. A Perspectiva Behaviorista para a Aquisição da Linguagem (B. F. Skinner)

A visão Behaviorista, defendida por B. F. Skinner (em sua obra clássica Verbal Behavior, 1957), propõe que a linguagem não é inata, mas sim um Comportamento Verbal aprendido.

  • Conceito Central: A criança adquire a linguagem por meio do Condicionamento Operante, o mesmo mecanismo que explica a aquisição de qualquer outro comportamento.

  • Mecanismo de Aquisição: O processo é baseado em Estímulo-Resposta-Reforço. O bebê emite um som (resposta); o adulto ou cuidador reage com aprovação (reforço positivo); a probabilidade de o bebê repetir o som aumenta. O reforço gradual molda o balbucio até transformá-lo em palavras e frases funcionais.

  • Ênfase: O ambiente externo e a imitação são fatores determinantes. A mente do bebê é uma "tábula rasa", e a linguagem é um conjunto de hábitos adquiridos pela interação social. Skinner categorizou o comportamento verbal em unidades funcionais, como os Mands (pedidos) e Tactos (nomeações), baseadas nas variáveis ambientais que os controlam.


2. Gerativismo e Aquisição da Linguagem (Noam Chomsky)

Em forte oposição ao Behaviorismo, o linguista Noam Chomsky propôs o Gerativismo (ou Inatismo), argumentando que o cérebro humano está biologicamente preparado para a linguagem.

  • Conceito Central: A linguagem é uma capacidade inata, um órgão mental específico da espécie, não sendo aprendida, mas sim desenvolvida por maturação biológica.

  • Mecanismo de Aquisição: O cérebro contém um dispositivo chamado Mecanismo de Aquisição da Linguagem (LAD), que hospeda a Gramática Universal (GU). A GU é o esqueleto de todas as línguas humanas, um conjunto de Princípios e Parâmetros. O input linguístico (a língua local) apenas ajuda a criança a "fixar os parâmetros" daquela língua.

  • Argumento-Chave: O Estímulo Empobrecido: Chomsky questionou: Como a criança aprende estruturas gramaticais complexas tão rapidamente, se o input que ela recebe é frequentemente incompleto e cheio de erros? A única explicação é que ela já possui o conhecimento básico da estrutura gramatical de forma inata, o que resolve o "Problema de Platão".


3. Aquisição da Linguagem na Abordagem Epigenética (Jean Piaget)

A Epistemologia Genética de Jean Piaget oferece uma terceira via, situando a linguagem dentro do desenvolvimento da inteligência e da lógica.

  • Conceito Central: A aquisição da linguagem é um produto e uma consequência do desenvolvimento cognitivo. A linguagem não é a causa do pensamento, mas sim uma forma de representação dele.

  • Mecanismo de Aquisição: A linguagem surge apenas quando a criança atinge a Capacidade de Representação Simbólica (por volta dos 18 meses), que também se manifesta no jogo simbólico e na imitação diferida. Essa capacidade é construída pela interação ativa da criança com o ambiente.

  • Processos Construtivos: O desenvolvimento linguístico é guiado pelos processos de Assimilação (incorporar novas informações a esquemas mentais existentes) e Acomodação (modificar esquemas existentes para lidar com o novo).

  • Linguagem Egocêntrica: Piaget observou a linguagem egocêntrica, a fala que a criança dirige a si mesma, servindo para acompanhar seu raciocínio e ação, demonstrando a primazia da inteligência individual sobre o aspecto social no início do desenvolvimento.


O Caminho do Interacionismo

Ao analisar essas três perspectivas, notamos que o Behaviorismo foca no ambiente, o Gerativismo foca na mente inata e o Epigenetismo foca na inteligência individual. No entanto, faltou uma teoria que desse o devido valor à interação social como o motor primário do desenvolvimento linguístico.

No próximo tópico, exploraremos como a teoria Sócio-Interacionista de Lev Vygotsky preenche essa lacuna, propondo que a linguagem é, acima de tudo, uma ferramenta cultural e social que molda o próprio pensamento.

Fique ligado para entender o papel da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) na aquisição da fala!











PRESSUPOSTOS TEÓRICOS SOBRE A LINGUAGEM

As Quatro Pilares da Linguagem: Um Diálogo entre Teorias Clássicas da Aquisição


Introdução: Apresentar a Linguagem como a capacidade humana central, sua relevância para a cognição e comunicação (conforme seus estudos) e a complexidade de explicar como ela é adquirida, motivando a necessidade de analisar as principais teorias.





Tópico 1: A Perspectiva Behaviorista para a Aquisição da Linguagem (Skinner)

Conceitos e Definições Essenciais Referências de Publicações/Estudos


Visão: A linguagem é vista como um Comportamento Verbal, ou seja, um comportamento operante aprendido, tal como qualquer outro. SKINNER, B. F. (Verbal Behavior), 1957. (Obra central que propõe a teoria).


Mecanismo de Aquisição: Condicionamento Operante. A criança aprende por meio de Estímulo-Resposta-Reforço. O adulto fornece o estímulo, a criança emite a resposta (o som ou a palavra) e o adulto fornece o reforço positivo (aprovação, atenção), o que aumenta a probabilidade de a criança repetir o comportamento. BLOOMFIELD, L. (Language), 1933. (Base estruturalista que influenciou Skinner, vendo a linguagem como um sistema de hábitos).


Ênfase: O ambiente externo e a imitação são os fatores determinantes. O bebê nasce como uma "folha em branco" (tábula rasa). Artigos sobre a Crítica de Chomsky a Skinner: (Essencial para contextualizar o debate sobre o behaviorismo e a linguagem).


Categorias de Comportamento Verbal: Mands (pedidos, controlados pelo estado de necessidade), Tactos (nomeações, controlados por estímulos do ambiente) e Intraverbais (associações verbais, como conversação). RAMOZZI-CHIAROTTINO, Z. Em busca do sentido da obra de Jean Piaget, 1999. (Embora foque em Piaget, discute a crítica aos modelos behavioristas).





Tópico 2: Gerativismo e Aquisição da Linguagem (Chomsky)

Conceitos e Definições Essenciais Referências de Publicações/Estudos


Visão: A linguagem é uma capacidade inata e específica da espécie humana. É um órgão mental biológico, a ser estudado pela Psicologia Cognitiva. CHOMSKY, N. (Aspectos da Teoria da Sintaxe), 1965. (Obra fundamental para a Gramática Gerativa e a postulação de estruturas inatas).


Mecanismo de Aquisição: Mecanismo de Aquisição da Linguagem (LAD) ou Órgão da Linguagem. É um dispositivo mental inato que contém a Gramática Universal (GU). CHOMSKY, N. (O Conhecimento da Língua, sua natureza, origem e uso), 1986.


Gramática Universal (GU): Conjunto de princípios e parâmetros universais que restringem as possibilidades gramaticais, permitindo que a criança filtre e selecione as regras da língua à qual é exposta. CHOMSKY, N. (Arquitetura da Linguagem), 2000. (Continuação da discussão sobre a natureza da linguagem).


O "Problema de Platão": A criança adquire a complexa estrutura gramatical de sua língua em pouco tempo, com dados incompletos ou imperfeitos (o "Estímulo Empobrecido"). Isso só é possível se a gramática básica for inata. BEZERRA, G. B.; SOUZA, L. B. de. A Aquisição da linguagem por Chomsky e por Tomasello, 2013. (Compara a visão inatista com abordagens que enfatizam o uso).





Tópico 3: Aquisição da Linguagem na Abordagem Epigenética (Piaget)

Conceitos e Definições Essenciais Referências de Publicações/Estudos


Visão (Epigenética): O desenvolvimento da linguagem é um produto e um reflexo do Desenvolvimento Cognitivo mais amplo. Não é inato (Chomsky) nem meramente aprendido (Skinner). PIAGET, J. (A Formação do Símbolo na Criança), 1971. (Explora a imitação, o jogo e a imagem mental como precursores da representação simbólica e da linguagem).


Mecanismo de Aquisição: A linguagem surge quando a criança atinge a Capacidade de Representação Simbólica, o que ocorre no final do estágio sensório-motor (por volta de 18-24 meses). A linguagem é uma das manifestações dessa capacidade. DOLLE, J.-M. (Para compreender Jean Piaget: uma iniciação à psicologia genética piagetiana), 1987. (Livro introdutório sobre a teoria piagetiana).


Processos-Chave: Assimilação (incorporação de novos conhecimentos em esquemas existentes) e Acomodação (modificação dos esquemas existentes para incorporar novos conhecimentos). O conhecimento é construído pela ação do sujeito sobre a realidade. RAMOZZI-CHIAROTTINO, Z. Epistemologia genética e aquisição da linguagem, 2009. (Discussão detalhada da perspectiva piagetiana sobre a AL).


Linguagem Egocêntrica: Fala que não é dirigida a ninguém, servindo como acompanhamento do pensamento e da ação da criança (estágio pré-operatório), com função intracognitiva (oposto à socialização). BIAGGIO, A. M. B. (Psicologia do Desenvolvimento), 1976. (Material clássico para a psicologia do desenvolvimento no Brasil).





Tópico 4: Interacionismo em Aquisição da Linguagem (Vygotsky)

Conceitos e Definições Essenciais Referências de Publicações/Estudos


Visão (Sócio-Histórica/Interacionista): A linguagem é a principal ferramenta psicológica e surge da interação social e do contexto cultural. É o principal mediador do desenvolvimento cognitivo. VYGOTSKY, L. S. (Pensamento e Linguagem), 1934/2008. (Obra fundamental que discute a gênese social da linguagem e sua relação com o pensamento).


Mecanismo de Aquisição: O aprendizado da linguagem precede o desenvolvimento cognitivo. A interação com o adulto (o "Outro") é o motor do desenvolvimento. VYGOTSKY, L. S. (A Formação Social da Mente), 1978/1998. (Introduz o conceito de ZDP e a mediação semiótica).


Conceitos-Chave: Mediação Semiótica (a linguagem como signo que medeia a relação entre o sujeito e o mundo) e Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) (a distância entre o que a criança faz sozinha e o que ela pode fazer com a ajuda de um parceiro mais experiente - o ensino estimula o aprendizado). TEORIA SOCIOINTERACIONISTA (Artigos de Vários Autores - Vygotsky, Tomasello, etc.). (Diversos artigos atuais que confirmam a base social da aquisição).


Relação Pensamento e Linguagem: Inicialmente independentes, tornam-se interligados. A Fala Egocêntrica é vista como um estágio transitório da fala social para a Fala Interior (pensamento verbal). PRESTES, Z. (Quando não é quase a mesma coisa: traduções de Lev Semionovitch Vigotski no Brasil), 2012. (Importante para o estudo rigoroso da obra original de Vygotsky).


Nenhuma teoria sozinha é capaz de explicar a complexidade total da aquisição da linguagem. Um olhar contemporâneo sugere que o processo envolve a base biológica inata (Chomsky) que permite a aquisição, o desenvolvimento cognitivo (Piaget) que a sustenta e a interação social e o ambiente (Skinner e Vygotsky) que a modelam e a impulsionam.









Gerativismo e Aquisição da


Linguagem DE Noam Chomsky



É ótimo focar no Gerativismo de Noam Chomsky, pois essa teoria revolucionou a forma como a ciência enxerga a aquisição da linguagem, mudando o foco do ambiente para a mente humana.


Abaixo estão os conceitos centrais dessa perspectiva, prontos para a seção do seu blog sobre os Pressupostos Teóricos da Linguagem:


Gerativismo e Aquisição da Linguagem (Noam Chomsky)

O Gerativismo, ou Inatismo, propõe que a capacidade de adquirir e usar a linguagem não é algo que a criança aprende do zero através de imitação, mas sim um conhecimento inato, uma característica biológica e exclusiva da espécie humana.


1. A Visão Inatista e a Gramática Universal (GU)

Chomsky propôs que o cérebro humano é dotado de um módulo especializado para a linguagem, que ele chamou de Mecanismo de Aquisição da Linguagem (LAD - Language Acquisition Device).


Gramática Universal (GU): É o componente central do LAD. A GU é um conjunto de princípios (regras imutáveis de todas as línguas) e parâmetros (opções binárias que variam entre as línguas, como a ordem Sujeito-Verbo-Objeto).


A Linguagem como Órgão Mental: A linguagem é vista como um sistema de conhecimento internalizado que se desenvolve na criança, de forma semelhante a outros órgãos biológicos (como o sistema imunológico, por exemplo), desde que exposta a um ambiente linguístico.


Objetivo do LAD: O ambiente fornece o input linguístico (a língua específica), e o LAD/GU atua como um filtro, processando esse input e fixando os parâmetros da Gramática Universal, permitindo que a criança gere as regras específicas da sua língua-mãe.


2. O Argumento do Estímulo Empobrecido (Pobreza do Estímulo)

Este é o argumento central que Chomsky usou para refutar a visão Behaviorista de Skinner:


O Problema de Platão: Como a criança adquire um sistema linguístico tão complexo e produtivo em um período de tempo tão curto, se ela é exposta apenas a um input linguístico limitado, repleto de erros, frases incompletas e hesitações (o chamado Estímulo Empobrecido)?


A Resposta Inatista: A única forma de a criança dominar as regras de sua língua (incluindo as que ela nunca ouviu) é se ela já tiver o esqueleto da gramática (a GU) inato. O ambiente serve apenas para "ativar" esse conhecimento pré-existente.


3. Competência vs. Desempenho

Chomsky diferenciou dois aspectos da linguagem:


Competência Linguística: É o conhecimento implícito e internalizado que o falante-ouvinte ideal tem de sua língua. É o sistema de regras gramaticais contido no LAD. A Gerativismo estuda a Competência.


Desempenho Linguístico: É o uso real da linguagem em situações concretas. O Desempenho pode ser afetado por fatores não linguísticos (cansaço, lapsos, erros de memória).


Para Chomsky, a Linguística deve focar na Competência, ou seja, na estrutura subjacente e no potencial criativo da linguagem, para entender sua essência.


📑 Referências-Chave 

CHOMSKY, N. Aspectos da Teoria da Sintaxe. Lisboa: Editorial Presença, 1965/2014.


CHOMSKY, N. O Conhecimento da Língua: sua natureza, origem e uso. São Paulo: Martins Fontes, 1986.


CHOMSKY, N. Arquitetura da Linguagem. Bauru: EDUSC, 2000.









Aquisição da Linguagem na


Abordagem Epigenética



Com certeza. O foco na Abordagem Epigenética de Jean Piaget traz a dimensão do desenvolvimento cognitivo como a base essencial para o surgimento e a evolução da linguagem.


Abaixo, segue a estrutura com os conceitos-chave para a seção do seu blog:


Aquisição da Linguagem na Abordagem Epigenética (Jean Piaget)

Ao contrário das visões inatistas (Chomsky) ou ambientalistas (Skinner), a teoria de Piaget, conhecida como Epistemologia Genética, propõe que a linguagem não é inata, nem puramente aprendida por reforço, mas sim uma consequência e uma forma de representação do desenvolvimento cognitivo.


1. Linguagem como Fruto da Cognição

Para Piaget, a linguagem é apenas uma das manifestações da função simbólica ou função semiótica, que se desenvolve na criança no final do estágio sensório-motor (por volta dos 18 meses).


Pré-requisito Cognitivo: A capacidade de usar a linguagem (símbolos e signos) depende da criança ter construído mentalmente o conceito de objeto permanente e a capacidade de fazer representações mentais.


A Linguagem Acompanha a Inteligência: O desenvolvimento linguístico depende da evolução das estruturas da inteligência. O que a criança fala reflete o que ela já é capaz de pensar e construir logicamente.


Outras Manifestações da Função Simbólica: O surgimento da linguagem é paralelo ao surgimento de outras formas de representação, como a imitação diferida (imitar algo ou alguém na ausência do modelo), o jogo simbólico (o "faz de conta") e o uso de imagens mentais.


2. Mecanismos de Aquisição e Construção do Conhecimento

A criança constrói seu conhecimento sobre o mundo (e, consequentemente, sua linguagem) por meio da ação e da interação com o ambiente, utilizando dois processos complementares:


Assimilação: A criança incorpora novas informações ou experiências aos seus esquemas mentais já existentes. Por exemplo, ao aprender a palavra "gato", a criança a aplica a qualquer animal de quatro patas.


Acomodação: A criança modifica seus esquemas mentais para lidar com a nova informação que não se encaixa. No exemplo anterior, o adulto a corrige, e ela precisa acomodar o conceito, aprendendo que só o animal específico é o "gato". A linguagem é adquirida por um constante equilíbrio entre esses dois processos.


3. A Linguagem Egocêntrica

Um conceito-chave na teoria de Piaget (e que contrasta com Vygotsky) é o da fala no estágio pré-operatório (aproximadamente 2 a 7 anos):


Foco Intracognitivo: A Linguagem Egocêntrica é a fala que a criança emite para si mesma, sem a intenção de comunicar ou ser ouvida por outros (exemplo: falar sozinha enquanto brinca).


Função: Para Piaget, essa fala serve como um acompanhamento do pensamento e da ação da criança. Ela demonstra a primazia da individualidade e do raciocínio sobre a socialização neste estágio. Com o desenvolvimento e o contato social, essa fala egocêntrica é gradualmente substituída pela linguagem socializada.


📑 Referências-Chave 

PIAGET, J. A Formação do Símbolo na Criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.


DOLLE, J.-M. Para compreender Jean Piaget: uma iniciação à psicologia genética piagetiana. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1987.


RAMOZZI-CHIAROTTINO, Z. Epistemologia genética e aquisição da linguagem. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2009.

Comentários

Postagens mais visitadas