ANÁLISE FUNCIONAL - PSICOLOGIA

 Em psicologia, a análise funcional é um processo fundamental dentro da Análise do Comportamento (AC) que visa identificar as relações causais entre o comportamento de um indivíduo e o seu ambiente


O objetivo principal é entender por que um determinado comportamento ocorre, descrevendo as variáveis ambientais que o antecedem (ocorrem antes) e as consequências (ocorrem depois) que o mantêm ou enfraquecem.

Em vez de focar em rótulos diagnósticos ou explicações internalistas (como traços de personalidade fixos), a análise funcional busca compreender o comportamento no seu contexto específico, como uma interação dinâmica entre o organismo e o seu ambiente.

Os Três Componentes da Análise Funcional (o "ABC"):

A análise funcional tradicionalmente se estrutura em torno do modelo ABC:

  • Antecedente (A): É o evento, estímulo ou condição ambiental que precede imediatamente o comportamento de interesse (o comportamento-alvo). Os antecedentes podem ser:

    • Estímulos Discriminativos (Sd): Sinais ou contextos que sinalizam a disponibilidade de reforçamento para um determinado comportamento. Exemplo: O toque de um telefone (Sd) pode preceder o comportamento de atender (Rv) que é reforçado pela conversa (Sr).
    • Operações Motivacionais (MOs): Variáveis ambientais ou internas que alteram o valor reforçador de um estímulo e a probabilidade da ocorrência de um comportamento relacionado a esse reforçador. Existem dois tipos principais:
      • Operação Estabelecedora (EO): Aumenta o valor reforçador de um estímulo e a probabilidade de comportamentos que levam a ele. Exemplo: Privação de água (EO) aumenta o valor reforçador da água e a probabilidade de comportamentos para obtê-la.
      • Operação Abolidora (AO): Diminui o valor reforçador de um estímulo e a probabilidade de comportamentos que levam a ele. Exemplo: Saciação de comida (AO) diminui o valor reforçador da comida e a probabilidade de comportamentos para obtê-la.
    • Outros eventos ambientais: Presença de certas pessoas, horários específicos, locais, etc.
  • Comportamento (B): É a resposta específica do indivíduo que está sendo analisada. É importante que a descrição do comportamento seja objetiva, clara e mensurável. Em vez de "estar ansioso", descreveríamos "roer as unhas", "evitar contato visual" ou "falar em tom de voz elevado".

  • Consequência (C): É o evento ou estímulo que segue imediatamente o comportamento. As consequências podem influenciar a probabilidade de o comportamento ocorrer novamente no futuro. Elas podem ser:

    • Reforçamento: Aumenta a probabilidade futura do comportamento.
      • Reforçamento Positivo (Sr+): Apresentação de um estímulo apetitivo após o comportamento. Exemplo: Receber um elogio após fazer um bom trabalho pode aumentar a probabilidade de fazer um bom trabalho novamente.
      • Reforçamento Negativo (Sr-): Remoção ou evitação de um estímulo aversivo após o comportamento. Exemplo: Tomar um analgésico (comportamento) remove a dor de cabeça (estímulo aversivo), aumentando a probabilidade de tomar o analgésico novamente em situações semelhantes.
    • Punição: Diminui a probabilidade futura do comportamento.
      • Punição Positiva (Sp+): Apresentação de um estímulo aversivo após o comportamento. Exemplo: Receber uma multa (estímulo aversivo) por dirigir em alta velocidade pode diminuir a probabilidade de dirigir em alta velocidade novamente.
      • Punição Negativa (Sp-): Remoção de um estímulo apetitivo após o comportamento. Exemplo: Perder o acesso ao celular (estímulo apetitivo removido) por não fazer a lição de casa pode diminuir a probabilidade de não fazer a lição de casa novamente.
    • Extinção: A descontinuação do reforçamento de um comportamento previamente reforçado, levando à diminuição gradual da sua frequência.



Objetivos e Aplicações da Análise Funcional:

  • Compreender a Função do Comportamento: O principal objetivo é determinar qual a função que o comportamento serve para o indivíduo no seu ambiente. Em outras palavras, o que a pessoa está "ganhando" ou "evitando" ao se comportar dessa maneira?
  • Desenvolver Intervenções Eficazes: Ao identificar as variáveis que mantêm um comportamento problemático, é possível desenvolver intervenções que alterem essas variáveis para promover comportamentos mais adaptativos. Isso pode envolver:
    • Modificar os antecedentes para tornar o comportamento problemático menos provável.
    • Ensinar comportamentos alternativos que sirvam à mesma função de forma mais apropriada.
    • Alterar as consequências para reforçar comportamentos desejados e extinguir ou punir comportamentos problemáticos.
  • Personalizar o Tratamento: A análise funcional permite uma abordagem altamente individualizada, focada nas necessidades e no contexto específico de cada pessoa.
  • Aplicabilidade em Diversas Áreas: A análise funcional é amplamente utilizada em diversas áreas da psicologia, incluindo:
    • Clínica: Tratamento de transtornos mentais, problemas de comportamento em crianças e adultos.
    • Educação: Manejo de comportamento em sala de aula, desenvolvimento de estratégias de ensino eficazes.
    • Organizações: Melhoria do desempenho, segurança no trabalho.
    • Saúde: Promoção de comportamentos saudáveis, adesão ao tratamento.
    • Esporte: Otimização do desempenho atlético.



A análise funcional é uma ferramenta poderosa e essencial na Análise do Comportamento para entender o "porquê" do comportamento, 

focando nas interações dinâmicas entre o indivíduo e seu ambiente. Ao identificar as relações de antecedentes e consequências, ela fornece a base para o desenvolvimento de intervenções comportamentais eficazes e personalizadas.



As possíveis causas de um comportamento são, portanto, os antecedentes e as consequências que o influenciam. 


1. Antecedentes (O que acontece ANTES do comportamento):

Os antecedentes estabelecem o contexto em que o comportamento ocorre e podem aumentar ou diminuir a probabilidade de sua emissão.

  • Estímulos Discriminativos (Sd): Sinais ou situações que historicamente sinalizaram a disponibilidade de reforçamento para um determinado comportamento. A presença do Sd evoca ou elicita o comportamento porque, no passado, aquele comportamento foi reforçado na presença desse estímulo.

    • Exemplo: Uma placa de "Aberto" (Sd) em uma loja aumenta a probabilidade de uma pessoa entrar (comportamento) porque, no passado, entrar em lojas com essa placa resultou em acesso a bens ou serviços desejados (reforço).
    • Outros exemplos: O toque de um telefone, um pedido específico, a presença de uma pessoa em particular, um determinado horário do dia.
  • Operações Motivacionais (MOs): Eventos ambientais ou internos que alteram o valor reforçador de um estímulo e, consequentemente, a probabilidade de comportamentos relacionados a esse reforçador.

    • Operações Estabelecedoras (EO): Aumentam a efetividade de um reforçador e a probabilidade de comportamentos que levam a ele.
      • Exemplo: Estar com sede (EO) torna a água um reforçador mais potente e aumenta a probabilidade de comportamentos para obter água (pedir, procurar).
      • Outros exemplos: Privação de comida, sentir dor, necessidade de atenção.
    • Operações Abolidoras (AO): Diminuem a efetividade de um reforçador e a probabilidade de comportamentos que levam a ele.
      • Exemplo: Ter acabado de comer (AO) diminui o valor reforçador da comida e a probabilidade de comportamentos para obter mais comida.
      • Outros exemplos: Saciação de atenção, alívio da dor.
  • Outros Eventos Antecedentes: Uma variedade de outros estímulos e condições podem influenciar o comportamento, mesmo que não tenham sido diretamente associados ao reforçamento no passado.

    • Exemplo: Um ambiente barulhento pode aumentar a probabilidade de comportamentos de isolamento em algumas pessoas.
    • Outros exemplos: Humor, estado fisiológico geral, a presença de múltiplos estímulos simultaneamente.

2. Consequências (O que acontece DEPOIS do comportamento):

As consequências são os eventos que seguem o comportamento e têm o poder de influenciar a probabilidade de esse comportamento ocorrer novamente no futuro.

  • Reforçamento: Qualquer consequência que aumenta a probabilidade futura do comportamento.

    • Reforçamento Positivo (Sr+): A apresentação de um estímulo apetitivo ou desejável após o comportamento.
      • Exemplo: Uma criança faz um dever de casa (comportamento) e recebe um elogio (Sr+), o que pode aumentar a probabilidade de ela fazer o dever de casa novamente.
    • Reforçamento Negativo (Sr-): A remoção ou evitação de um estímulo aversivo ou indesejável após o comportamento.
      • Exemplo: Uma pessoa toma um analgésico (comportamento) e a dor de cabeça desaparece (Sr-), o que pode aumentar a probabilidade de ela tomar o analgésico novamente em situações semelhantes.
  • Punição: Qualquer consequência que diminui a probabilidade futura do comportamento.

    • Punição Positiva (Sp+): A apresentação de um estímulo aversivo após o comportamento.
      • Exemplo: Um adolescente chega tarde em casa (comportamento) e perde o acesso ao videogame (Sp+), o que pode diminuir a probabilidade de ele chegar tarde novamente.
    • Punição Negativa (Sp-): A remoção de um estímulo apetitivo após o comportamento.
      • Exemplo: Uma criança briga com o irmão (comportamento) e perde o direito de assistir ao seu programa favorito (Sp-), o que pode diminuir a probabilidade de brigar novamente.
  • Extinção: A ausência de reforçamento para um comportamento previamente reforçado, o que leva à diminuição gradual da frequência desse comportamento.

    • Exemplo: Uma criança costumava chorar para ganhar atenção (comportamento) e os pais pararam de dar atenção quando ela chorava (ausência de reforço). Com o tempo, a frequência do choro tende a diminuir.


NA Análise Funcional, as "causas" do comportamento são as interações complexas entre os antecedentes (estímulos presentes antes do comportamento que sinalizam reforçamento ou alteram o valor dos reforçadores) e as consequências (eventos que seguem o comportamento e influenciam sua probabilidade futura). 


Compreender essas relações funcionais é essencial para explicar e modificar o comportamento de forma eficaz.


1. Estímulos Discriminativos (Sd): Sinais que sinalizam a disponibilidade de reforçamento:

  • Instruções Verbais:
    • Um professor dizendo "Comecem o exercício agora".
    • Um chefe pedindo "Entregue o relatório até amanhã".
    • Uma placa indicando "Silêncio".
  • Sinais Visuais:
    • A luz verde do semáforo.
    • O logotipo de uma loja favorita.
    • Uma expressão facial de aprovação.
    • Um termômetro marcando alta temperatura.
  • Sinais Auditivos:
    • O toque de um telefone.
    • O som da campainha.
    • Uma música específica que lembra um evento.
  • Sinais Olfativos:
    • O cheiro de comida sendo preparada.
    • O odor de fumaça.
  • Sinais Táteis:
    • A textura macia de um cobertor.
    • A sensação de frio na pele.
  • Contextos Sociais:
    • A presença de amigos que costumam rir das suas piadas.
    • Estar em uma reunião de trabalho formal.
    • Participar de uma festa animada.
  • Localizações Físicas:
    • Estar na cozinha (associado a comer).
    • Entrar em uma biblioteca (associado a silêncio).
    • Chegar à academia (associado a exercícios).
  • Horários e Rotinas:
    • O despertar do alarme pela manhã.
    • A hora do almoço.
    • O horário de ir para a cama.

2. Operações Motivacionais (MOs): Alteram o valor reforçador e a probabilidade do comportamento):

  • Operações Estabelecedoras (EO): Aumentam a motivação para um reforçador:

    • Privação:
      • Estar com fome aumenta o valor reforçador da comida.
      • Estar com sede aumenta o valor reforçador da água.
      • Estar isolado aumenta o valor reforçador da interação social.
      • Estar com sono aumenta o valor reforçador do descanso.
    • Estimulação Aversiva:
      • Sentir dor aumenta o valor reforçador do alívio da dor (tomar um remédio).
      • Sentir frio aumenta o valor reforçador do calor (colocar um casaco).
      • Ser criticado aumenta o valor reforçador da aprovação.
    • Outros:
      • A antecipação de um evento desejado.
      • A necessidade de concluir uma tarefa.
  • Operações Abolidoras (AO): Diminuem a motivação para um reforçador:

    • Saciação:
      • Ter acabado de comer diminui o valor reforçador da comida.
      • Ter recebido muita atenção diminui o valor reforçador de mais atenção.
      • Ter dormido bem diminui o valor reforçador de dormir mais.
    • Estimulação Apetitiva:
      • Estar em um ambiente muito quente pode diminuir o valor reforçador do sol.
      • Ter acabado de ouvir uma piada pode diminuir o valor reforçador de ouvir outra.

3. Outros Eventos Antecedentes:

  • Humor e Estados Emocionais:
    • Sentir-se ansioso pode levar a comportamentos de evitação.
    • Estar de bom humor pode aumentar a probabilidade de interações sociais positivas.
    • Sentir-se frustrado pode levar a comportamentos agressivos.
  • Pensamentos e Crenças:
    • Acreditar que falhar é inaceitável pode levar a comportamentos de procrastinação por medo do erro.
    • Pensar que alguém está sendo injusto pode levar a comportamentos de confronto.
  • Estados Fisiológicos:
    • Estar doente pode levar a comportamentos de descanso e isolamento.
    • O efeito de substâncias psicoativas pode alterar o comportamento.
  • Eventos Ambientais Gerais:
    • Um dia chuvoso pode influenciar o humor e a disposição para atividades ao ar livre.
    • Um ambiente calmo pode facilitar a concentração.
    • Um ambiente superestimulante pode levar a comportamentos de agitação.


É importante lembrar que um mesmo antecedente pode influenciar diferentes comportamentos em diferentes pessoas e em diferentes momentos, dependendo da história de aprendizagem e das variáveis motivacionais presentes. 

A análise funcional busca identificar quais desses antecedentes estão funcionalmente relacionados ao comportamento-alvo específico que está sendo investigado.



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